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Brindemos mais que nunca

Se há uma época onde o brinde reina absoluto é no final do ano. Além das badaladas festas de natal e réveillon, são confraternizações de empresa, amigo secreto da faculdade, da academia, da turma do cooper. Brindamos pelo que conseguimos realizar no ano que finda ou fazemos um brinde compromisso com o que pretendemos realizar no próximo.

Na verdade, o ato de brindar tornou-se conhecido na Inglaterra do século XVI onde uma torrada era lançada ao fundo do copo e os participantes deveriam terminar a bebida no copo a fim de alcança-la. Existem várias formas e cada cultura possui uma palavra ou som para o brinde. Para os franceses é santé ou salut, e na boca já fica o biquinho armado pronto pra beber! Os espanhóis e latinos de língua espanhola erguem suas taças dizendo salud. O universal tin-tin, ou chin-chin, não é apenas uma onomatopeia para os chineses. Lá, chin significa “felicidade”, e chin-chin, “muita felicidade”. Em japonês o brinde é outro, diz-se kampai, que quer dizer “copo vazio”, o que também faz sentido!

E se vamos brindar que tal uma bebida nobre como o Champagne? O champagne é um vinho espumante de uma região de mesmo nome que fica a aproximadamente 150 km de Paris. Em meados do século 17 já existiam vinhos espumantes, porém um efeito não esperado acontecia com algumas garrafas de vinho não espumante. Uvas colhidas antes do tempo entre outros fatores provocavam uma segunda fermentação dentro das garrafas, o que ocasionava seu rompimento por pressão e consequentes prejuízos. Um monge chamado Don Pérignon, sim ele, começou a investigar o fato e resolveu usar garrafas mais espessas e rolhas amarradas com arames. Além disso, usou uma técnica chamada assemblage, que consiste na mistura de dois ou mais vinhos. Resultado, conseguiu realizar a segunda fermentação dentro das garrafas, criando o primórdio do que hoje chamamos Champagne. “Estou bebendo estrelas!” disse o monge.

Outra colaboradora em nossa história foi uma viúva, Veuve Clicquot. Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin perdeu o marido aos 27 anos e assumiu o controle da vinícola. Ela resolveu entre outras coisas, o problemas dos resíduos resultantes da segunda fermentação permanecerem na garrafa após o processo do monge. Sua audácia e empreendedorismo a fizeram dona de uma das mais famosas casas de Champagne do mundo. E segundo alguns, sua beleza e belos seios inspiraram as famosas taças de Champagne. Quem sabe!

A denominação Champagne é uma appellation dorigine contrôlée (denominação de origem controlada). Sendo assim, a região de Champagne, na França, é a única no mundo que pode dar o nome de Champagne aos seus espumantes. No resto do mundo, incluindo na França além da região em questão, a bebida de estrelas deve ser chamada apenas de vinho espumante ou simplesmente espumante.

Seja Champagne ou espumante, a bebida é pedida perfeita para qualquer ocasião onde se deseje festejar alguma coisa e a maneira de degustá-la fica a critério de cada um. Deixo algumas sugestões:

– Espumante com frutas – corte pequenos pedaços de morango, maça, pera, ameixa ou uvas e adicione a taça juntos ou separados. As frutas dão um sabor todo especial a bebida. No final do ano, uma simpatia que consiste em deixar as sementes de uva guardadas na carteira promete prosperidade no ano que se inicia!

– Espumante com ouro – Pique pequenos pedaços de folha de ouro comestível dentro da taça e sirva o espumante. Símbolo do luxo e de eternidade, os pedacinhos de ouro dançam ao som das borbulhas do espumante.

– Espumante com Cranberry – Uma dose de suco de cranberry ao espumante dão um toque de classe e um sabor final rústico.

E a dica: as taças devem estar impecavelmente limpas e cristalinas para o brinde de estrelas. Ah, e jamais arremessá-las para trás como alguns tem costume. É completamente out, anti ecológico, além do risco de machucar alguém é claro! Tin-Tin!

(Adaptação de texto publicado na revista Preto no Branco, Ano 2, 5a edição, em março de 2011)

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Hay que endurecer, pero sin perder la ternura!

Hay que endurecer, pero sin perder la ternura!
Estamos em Havana no início do século XX. Cuba luta por uma independência por quase toda sua história. O espírito revolucionário foi sendo forjado na ilha de geração em geração. Com apoio americano em 1897, Cuba torna-se autônoma e livre do domínio espanhol. Os americanos invadem Cuba no intuito de preservar a autonomia do país e obviamente também de seus interesses.
Assim como quem visita você sempre traz um souvenir, os americanos levaram suas músicas, seu cachorro quente e como não podia faltar, levaram também sua Coca-Cola. E em meio a este clima de euforia, liberdade e rum (os cubanos são loucos por rum), um Capitão americano, depois de um dia de serviço na ensolarada e infernal Havana de 1900, chega num bar e pede ao bartender algo que lhe refresque e relaxe.
O bartender então pega um copo, joga umas pedras de gelo, acrescenta uma dose de rum e completa com a americana Coca-Cola. O capitão pega o drink e bebe, deliciando-se a cada gole. Os demais soldados e cubanos presentes no bar, vendo a cara de satisfação do comandante, fazem a mesma pedida ao atendente.
E eis que em pouco tempo estão todos bebendo e brindando, afinal não havendo Copa do Mundo naquela época, o que mais haveria a ser feito em Cuba? Então alguém lá no fundo grita: -Cuba libre! E não é difícil imaginar logo em seguida todos embriagados, gritando em um coro destoado: -Cuba libre; Cuba libre! Viva Cuba! Viva la revolucion!
De fato, se alguém tivesse gritado “Viva españa!” ele teria sido apedrejado e seu nome dado em homenagem a bebida ou se tivesse surgido em meio a manifestação feminista de 1970 onde sutiãs foram rasgados e queimados talvez se chamasse “Meia Taça Livre!”. Mas assim é a interessante história do mundo e seus drinks e desta forma nasceu o Cuba Libre.
Com um século de existência, a bebida festeja uma Cuba que ainda não é totalmente livre, mas assim como o coquetel é sempre alegre e divertida. O drink, de enorme aceitação entre os brasileiros, tem sabor levemente doce, refrescante, é prático e rápido de ser feito e ainda permite adaptar o teor alcoólico a preferencia de quem toma.
Para preparar basta seguir a secular receita do barman cubano servindo em um copo alto e decorando com uma fatia de limão na borda. Para variar e deixar ainda mais refrescante, adicione rodelas de limão dentro do copo.

(Texto publicado na revista Preto no Branco, Ano 1, 2a edição, em junho de 2010)

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Sex on the beach e Ted Kennedy

Que tal um sexo na praia? Nada de propostas indecentes. O popular drink Sex on the Beach é velho conhecido nos bares, restaurantes e eventos. De sabor doce e paladar agradável, é boa pedida em qualquer ocasião.
O que a maioria não imagina é que este sugestivo drink teve como seu mentor cultural um senador. Não um senador brasileiro, afinal, com o perdão à casa administrativa, isto seria até previsível, mas um senador americano. Na verdade ninguém menos que Ted Kennedy. Irmão de John Kennedy, tido como um leão no senado americano e um dos três senadores com maior tempo de senado, na vida social Ted não era bem um modelo de conduta. Num de seus maiores deslizes, acompanhado de seu sobrinho William Kennedy, embriagou-se e acabou num escândalo de estupro na praia de Palm Beach.
Desgraça para o ilustre senador, que entre esta e outras acabou sem chances de concorrer a presidência americana, mas uma excelente idéia para barmans. O episódio noticiado exaustivamente pelas TVs acabou batizando o escandaloso drink. Uma dose de vodka gelada, meia dose de licor de pêssego, uma dose de suco de laranja, meia dúzia de gotas de grenadine e gelo. Bata tudo menos o grenadine na coqueteleira e acrescente as gotas no final ou nas bordas do copo antes de servir. Para decorar, uma fatia de limão ou laranja a beira do copo. A idéia é reproduzir no copo um típico por do sol em Palm Beach.
Para a IBA (International Bartenders Association) a receita oficial do Sex on the Beach leva suco de cranberry no lugar da grenadine e o copo deve ser decorado com xarope de laranja. E apesar de via de regra não se permitir mudanças num coquetel sem alterar seu nome, o sexo na praia latino é usualmente servido mesmo com grenadine ou ainda na versão mais econômica com xarope de groselha. Afinal, de um jeito ou de outro Sex on the beach é sempre bom! Aqui até cabe um duplo sentido.

(Texto publicado na revista Preto no Branco, Ano 1, 1a edição, em maio de 2010) www.revistapretonobranco.com.br