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Um dia quase qualquer

Meus patrões viajando e assumo como de costume interinamente o comando da empresa. O primeiro dia foi tão comum e corrido que mal vi passar e eis que chega a noite. Ainda no trabalho começam as ofertas de uma sexta-feira de farra.

Alias, o inconveniente de se ter vários amigos e amigas farristas é que se você aceitar o convite de cada um uma única vez no mês ainda assim acaba saindo todos os dias. Isso me lembra uma conversa sobre saídas após o trabalho. – Vamos tomar uma hoje? pergunta um colega. – Hoje ainda é segunda. Vamos amanhã! Responde o outro. Claro, deduzo eu, segunda é início da semana, já terça é quase fim de semana!

Porém chego em casa e o peso das horas em pé e a obrigação de levantar cedo no outro dia me faz repensar a idéia de sair pra farra. E caso ainda não estivesse convencido, ela, a dona do meu juízo me liga. Negociamos brevemente uma saída mas acabamos por passar um tempo apenas jogando conversa fora ao telefone. Ela me pede uma peça que viu num bazar e prometo pensar na ideia. Se por uma lado faze-la feliz é tudo que quero, por outro lado imagina-la vestida na peça é demais para meu fraco coração! Papo vai, papo vem e como que por mágica, todo o estresse e cansaço do dia simplesmente desaparecem. Como é bom escutar a sua voz! Acabo dormindo como um bebê e fatalmente sua presença habita meus sonhos.

Quinze pras seis da manhã e acordo sem despertador. O que a responsabilidade e uma noite tranquila não fazem. Antes das 7 já estou a caminho do trabalho e na ida tudo parece novo. O engarrafamento diário que coloco a cargo da minha amada prefeita praticamente não existe. Ela que diz que optou pelo social em detrimento a infraestrutura da cidade. Eu particularmente não vejo nem um nem outro, mas isso é outro assunto. Nas ruas apenas poucos carros, algumas pessoas fazendo cooper em um clima fresco por conta da época chuvosa e do horário.

Distraído nem percebo que havia deixado o rádio numa FM popular na noite anterior e quando menos espero estou escutando Mulher Pequena de Roberto Carlos. Abro aqui um parêntesis para dizer que não tenho nada contra o rei, mas honestamente o que define uma canção brega do resto das canções é nada mais nada menos que a personalidade do cantor. Mulher Pequena cantada pelo rei é uma canção romântica, na voz de Reginaldo Rossi seria um brega e nas vozes de Simara e Simone do Forró do Muído seria um forró apelativo sem mexer uma palavra sequer na letra.

Quando a gente acha que a coisa não pode piorar sempre piora não é? A manhã do sábado foi infernal e dentre vários problemas, desavenças com colaboradores são especialmente chatos. Questionado por um deles sobre a maneira como conduzo determinadas situações não me restou alternativa senão invocar a seguinte frase: “O diretor é gordo, eu sou magro, o diretor é feio, eu sou bonito (um certo humor ajuda a engolir o sapo que vem a seguir), o diretor faz do jeito dele, eu faço do meu. Quem tiver alguma objeção que o impeça de trabalhar deste modo pode passar no departamento pessoal munido da carteira de trabalho.”

Dito isto a coisa começou e voltar a normalidade aos poucos. Eu costumo dizer que sapos é um menu universal, todos servem, todos engolem. Passa-se a manhã e mais um dia de trabalho chega ao fim. Tento ligar para minha pequena sem sucesso. Por uma lado melhor, poupei-me o trabalho de resolver sobre o presente, pelo menos por hora!

Acabo cedendo ao Rei, e recorro ao brega. “Gosto de você pequena, esse beijo me alucina. Coisa de mulher gostosa, com um jeito de menina. Ai, ai, ai, essa voz doce e serena, essa coisa delicada, coisa de mulher pequena”. Quem não tem seu lado brega?

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Pequena

Princesa

Pequena como menina, grande como mulher. Pequenas porções de ilusão para um coração exagerado. Pequenas chances de dar certo, não?

O que tem esta menina que põe por terra mulheres de todas as cores, de várias idades e tantos amores? O que esconde com seu feitio que faz o improvável ser buscado e o impossível ser relativizado?

A leiga mais interessante que a sábia. Olha-me e sem pronunciar uma palavra, diz: Decíframe ou não te devoro. E o dono de todos os manuais e teorias cai por terra sem conhecimento.

Ela devolve a graça da conquista. Devolve o sonho de tornar uma pessoa única e especial. Me faz procurar semelhanças em letras de canções. Apaixonado.

Linda como uma flor, mas nega, modesta, a sua beleza. Desconhece o poder que exerce? Ah, pequena! Quien sabe un dia al viento las campanas dirán que ya eres mía!

(no texto, parafraseando Cazuza, Martinho da Vila e Luiz Miguel)